segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

terceiro fôlego

já cá não trago há muito tempo, os vapores que vêm da cozinha e que me atestam pleno o estômago. teimo em afastar a cruel densidade deste fórum, mas não deve ela deixar de existir, por contraponto à leveza da alma, e assim devolvo à gula o seu tão estimado lugar.

esquecido o portão do jardim por época do solstício de inverno, dado ao fado intemporal do terminar das lides profissionais que quis o pai sol que durem sempre os mesmos 365 chatos tempos, relembro fôlego necessário para que se arranque esta betoneira enfastiada de menos nobres idas diárias à mesa vazias de apetites, para que logo me apareça meu exaltado irmão, por entre tachos e suores, acepipes e refugados, e comigo na lembrança [se calhar por lhe presentear alguns néctares vínicos e por vias de irmandade sanguínea e lumínica que por sua escolha fez aliar...] e se me apresenta na frente o passadiço de iguarias por ele preparadas, e por sua mesma ordem, nefastamente divulgadas em rede social, onde preside a um harém de comensais amigos, para gáudio de uns, e para inveja de muitos. dirá a macilenta estirpe que a gula, pesará mais na alma pecadora que no corpo vão... que direi eu que acho plena a ideia que alma sem corpo não aprende, e que corpo sem alma não existe.

passaram-se dias de abandono, sentados demoradamente à mesa, bebericando suavemente, fazendo nascer luz a cada ideia tida, a cada sentimento expresso. cabe à gula a união de quantos sentados à mesa reforçavam a alma, o conhecimento e o carinho que vai jorrando no caminho comum. assim se alcança deus, vivendo o sangue com o que ele nos dá: luz.

Sem comentários: