
refastelado relembro a sexta feira chuvosa em que decidi seguir tamanha indicação gastronómica tua. culpado ficas se o fígado ceder em prantos gastrointestinais.
para lá e para cá andei perdido em rotundas esquecidas para aqueles lados onde a terra chora enxofre.
dei então com aquela fachada decorada de toneis. entrei por uma pipa adentro e sentei-me no meio da sala, envolto de grandes pedregulhos e aromas que só numa terra daquelas pode cozinhar.
não sendo comum lá em casa, tirando as vezes que a tua cunhada já se senta na mesa do repasto com significativo atraso, apostámos desta feita em pegar de cernelha uma "mista de enchidos" que acompanhada de broa nos saciou, logo ali, a fome. esta entrada justifica só por si o retorno àquelas mesas.
não fosse o pedido já efectuado, teríamos ficado por ali mesmo, fazendo aconchegar o pouco que restava de estômago livre com uma sopinha. mas o bacalhau estava já encomendado. de soslaio olhei para fora, pela janela em frente, e agradeci a deus o momento. reza logo afogada com um trago do vinho da casa, cujo rotulo não existia por aquele se apresentar num jarrinho de vidro. nestes meus viveres comensais não ouso beber que não seja "vinho da casa", "dão" de tal maneira abençoado que de pouca renda que fazia no copo, o deixou sujo de tinto e vazio de conteúdo.
português de coração, aquele bacalhau bem mergulhado no azeite a par de umas batatinhas, não me deixou dali abalar sem o provar todo.... sim provar... cada garfada dada era uma experiência nova, ora cortada por uma azeitoninha, ora seca por um naco de broa de milho - seria milho decerto pela cor amarelada com que se apresentou, ora lavada pelo néctar de baco.
fica neste meu jeito tosco o orgulho e a vénia de ser, além de teu irmão na terra e no céu, um principiante comensal seguidor dos teus talheres.
lanço para recorte final, a possibilidade de, logo que se consiga, recolhermo-nos lá todos para repetir a dose.
grande abraço