desligam-se os monogâmicos candelabros,
cobrem-se os velhos cadeirões com rotos lençóis bordados,
e fecham-se as sacadas do salão,
as festas terminaram, o circo acabou, a pirataria recolhe.
o retorcido baile de máscaras
onde nada do que foi, continuá a ser.
onde as comadres que se alongam,
cuscam agarradas a uma vela acesa
lambuzando-se nos últimos nacos de bolo.
de ar serio, sentadas no canto da mesa
perdem o sentido último da cena que perpetuam.
comentam baixinho... "ali vai ele, aquele malandro".
o som dos instrumentos que se guardam,
o fumo dos seus mestres, dão a cadência
enquanto abalo de soslaio da boca de cena
cabisbaixo, de sorriso maroto nos lábios.
de passo seguro deixo o copo à menina dos casacos
que me acompanha à sonora porta faustosa, entalhada,
para me entregar ao pequeno anjo de cabelo carregado.
lindo, de sorriso aberto, pega-me e destapa-me.
e acolhe-me as distendidas asas brancas...
é a luz do dia que retoma, afoita, mais uma batalha,
é sempre assim quando morre um sonho,
uma porta aberta para voltar à luz.
saber do velho portão, ainda que retraído, ferrugento
que deixa escapar um fresco ar que aviva o olfato,
é benção; é força em mim; é mundo mais uns tempos.